sexta-feira, 17 de abril de 2009

Ferramental do historiador

Le Goff diz:

"Acho em contrapartida que, sendo um ofício, a história deve forjar ferramentas, isto é, métodos, e submetê-los à reflexão e à discussão."

"... parece-me lamentável que alguns se erijam de início em juízes do método e, sem sequer terem uma formação em epistemologia..."

O trabalho de se forjar ferramentas para uso no ofício de historiador nunca foi um processo muito claro. Existe um debate historiográfico ainda hoje sobre quais são os métodos da ciência histórica. Quais são suas fórmulas?

Por não ser uma ciência exata como matemática ou física, fica difícil, mesmo dentro da academia, formular e definir que fórmulas são essas. Mais do que isso, buscar a validação delas dentro da comunidade de historiadores. Sinto falta desse debate.

Porém é preciso conhecimento epistemológico, que hoje virou praticamente artigo de luxo. Usar a epistemologia como ferramenta para se aprofundar na problematização da história possibilita o surgimento de reflexões menos superficiais e, por consequência muito mais ricas em resultados.

E aqui acrescento a potência que a internet pode oferecer para esse tipo de produção científica. Através de debates em fóruns, comunidades e pesquisas que se desenvolvam colaborativamente e de forma assíncrona, historiadores novos que estão espalhados podem produzir juntos e soltando versões beta de ferramentas para uso da comunidade de historiadores que através de suas ações e do próprio debate podem validar e melhorar essas ferramentas.

Uma crítica e uma constatação

Ao responder os críticos dos historiadores da nova história que os acusam de "não sair do marasmo da tradição dos Annales e de renegá-la, trocando a história total por uma história "'em migalhas"', Le Goff escreve na introdução da edição de 1988 de "História Nova":

A esse respeito, corre um mito: a nova história ter-se-ia apoderado da mídia e teria até obtido um quase monopólio da vulgarização histórica no livro, nas revistas, no rádio e na televisão. Essa lenda não resistiria a um estudo sério do mercado da história.

Esse é o primeiro momento em que vemos o autor citar as mídias durante o livro. Visto que esse texto foi escrito como prefácio a nova edição, logo uma atualização do texto publicado em 78, faz-se necessária uma atualização.

Passados 21 anos, vivemos um outro momento do termo "mídia". A internet se inseriu nesse contexto, provocando um fenômeno que ainda hoje em 2009 não está acabado mas está em andamento, chamado convergência digital. Rádio, tv, mídia impressa (jornais, revistas, livros), todos congregados num único veículo digital (sem deixarem de existir em seus formatos originais).

Observando-se somente essa informação, ainda falta um longo caminho para que a nova história se aproprie desses meios. O historiador ainda trabalho com a tecnologia da mesma forma que trabalhava 30 anos atrás, conforme uma postagem que ainda colocarei aqui demonstrará. O novo historiador ainda não se apropriou do conceito chave das novas tic´s. Porém, as pessoas já produzem história através dessa mídia dando origem ao que pode ser uma nova forma de produção histórica e pode exigir do historiador um olhar metodológico científico diferente do que ele possui/usa hoje.

Foco

Vou me dedicar durante alguns dias ao livro "História Nova", coletânea de textos organizada por Jacques Le Goff. Colocarei aqui alguns destaques comentados.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Le Goff II

"A história já tem a sorte ou a infelicidade (única de todas as ciências?) de poder ser feita convenientemente pelos amadores."

A história tem a sorte. Na minha pesquisa quero e vou abordar o que esses amadores estão fazendo. No futuro o papel do historiador "profissional" tende a ser facilmente considerado irrelevante num futuro muito próximo. 

Que mais amadores sejam estimulados. 


Jacques Le Goff

In "História e Memória"

"Marc Ferro (1977) mostrou como o cinema acrescentou à história uma nova fonte fundamental: o filme torna claro, aliás, que o cinema é "agente e fonte da história". Isto é verdadeiro para o conjunto da media, o que bastaria para explicar que a relação dos homens com a história conhece, como a media moderna (comunicação de massas, cinema, rádio, televisão), um avanço considerável. "

Sim, com a internet a pesquisa histórica avançou. Mas pode avançar anos luz ainda...

Marx

"A ciência não deve significar apenas um prazer egoístico. Os que têm a oportunidade de se consagrar aos estudos científicos deverão ser os primeiros a pôr seus conhecimentos a serviço da humanidade."

Ou seja: liberar as pesquisas no meio do processo... a humanidade precisa se apropriar... 

Extraí do capítulo "Recordações pessoais de Karl Marx" da edição de "O Capital" que a Conrad liberou pra download no ano passado. 

Working Progress

Resultado da reunião de hoje com minha orientadora Célia de Bernardi:

Introdução: partir da reflexão de Le Goff  (A História Nova) e de outros historiadores ou cientistas sociais quanto a questão da renovação documental; o problema da objetivdade do conhecimento; qual a concepção de documento. 

Os desafios do historiador frente as novas tecnologias da informação e comunicação

Fonte: Explicar a fonte documental utilizada: os depoimentos de usuários do programa Acessa São Paulo

Objetivo: Levantar temáticas do "Eu Me Lembro" considerando o cruzamento das lembranças pessoais e dos momentos históricos vivenciados por personagens até então anônimas. Em que medida as lembranças são permeadas pelo quadro social que dá suporte a memória. O que há de coletivo e de comum mesmo quando se fala de memórias pessoais. Selecionar grupos por faixas etárias, sexo, região administrativa.

Tarefa para o próximo encontro: 

Ler Maurice Halbwachs "A memória coletiva".